quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Poema de um Infame


"As Palavras" - Novembro 2007


"O Poeta" - Novembro 2007

"As cores do poema
não são as cores do arco-íris.

As cores do poema são o branco
e o preto.

Peguei nas sucessivas partes do poema
e tentei uni-las,
para que conseguisse fazer delas
um corpo inteiro
uno.

Peguei em seguida nas diversas partes do teu corpo
para que conseguisse fazer delas
um poema
com as cores do arco-íris.

Como não pude encontrar
nem o verde, nem o amarelo, nem o azul
colhi flores – rosas vermelhas, margaridas, algumas dálias
e outras espécies de flores coloridas que se podem cortar
adicionei o perfume das pétalas ao teu corpo inteiro
uno como o poema.

É verdade que algumas partes de mim também se podiam misturar contigo
o castanho dos meus olhos nos teus olhos castanhos
que podiam ser verdes ou azuis

e não interessava.

O branco e rosa das nossas mãos que podiam ser de outra cor
os dedos entrelaçados
depois derrapando para dentro das coxas
o lume com a engrenagem das rótulas em movimento

e não interessava a cor do lume.

O avermelhado das línguas atiradas uma à outra
os lábios a morderem-se
o sal das línguas a arder no seu banquete
e não interessava também às línguas qual a cor da nossa pele
nem quais as cores do arco-íris.

Eu e Tu neste verso
o preto no branco da folha de papel
as cores do poema
nenhum arco-íris."

José Miguel Oliveira (www.deliriospoeticos.blogspot.com)

Agradecimento


Pemba, Agosto 2008

Para a Deep (Blog Letras são Papéis) e aproveitando a ideia da Deep , aqui fica o meu agradecimento em forma de poema:

"Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: <>
Deus sabe, porque o escreveu."

Fernando Pessoa
Obrigado Deep por me ajudares nesta atenção ao que sou e vejo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Etiqueta Social


"O Último Julgamento" de Michelangelo Buonarroti (1475 - 1564)

A melhor companhia que um Infame pode ter é a de mulheres com pruridos sociais que têm na ponta da língua o texto "Etiqueta Social". "Ri-te mais baixo"; "Estás a fumar muito"; "Outra cerveja, não achas que já chega?"; "Fala baixo, está toda a gente a olhar"; e por aí fora. Adoro estes ditos, fazem-me sentir Infame! Apesar do prazer de tal companhia, pergunto-me o que leva estes Semideuses a sentirem-se à vontade para vociferar tais julgamentos. A resposta talvez esteja na sua perfeição social. Falam baixo, sorriem, não fumam, bebem na medida certa,... ou a resposta estará na crença de que têm poderes para, somente com as suas palavras, fazerem milagres do tipo Infame transformado em Semideus. Oh, como as admiro!

Olor


retirado de www.oamador.com

O nosso olfacto percepciona olores ou odores ou cheiros e envia mensagens ao nosso cérebro que se podem tornar incomodativas. Quando esse estímulo provém dos corpos, o "exalador", a sensação pode tornar-se bastante desagradável. Os proprietários destes "exaladores" não primam pela higiene, e distribuem suor, chulé, ... e outros olores poéticos, para quem os quer e para quem não os quer "apanhar".
No passado fim de semana fui brindado pela presença de vários "exaladores" deste calibre numa sala pequena e mal ventilada. Em vez de estar a saborear outros paladares fui invadida, porque alguns odores são persistentes e indelicados, por algumas maravilhas provenientes dos cabelos, dos sovacos, dos pés, das roupas,... A invasão foi de tal calibre que, por diversas vezes senti tonturas, e já nem sabia definir a proveniência destes ataques. Partilhei a minha angústia e pavor com algumas colegas e fiquei surpreendida pela ligeireza com que encaram a guerra que lhes descrevi. Esta ligeireza é grave uma vez que também foram bombardeadas e nem se aperceberam e como verdadeiras almas caridosas ainda justificaram com as mais belas palavras (não é primeira vez que as ouço) "coitados, não têm culpa". Quem tem culpa então? Eu, porque tenho uma células olfactivas muito sensíveis. Após horas de reflexão cheguei à conclusão que de facto sou culpada. Coitados, são defensores acérrimos do ambiente e não gastam água nem poluem as águas com os restos de sabonete. E eu, grande pecadora, não os percebi! E mais, necessitam de manter uma imagem coerente com aquilo que defendem. Alguém cheiroso, limpo, barba aparada, cabelos lavados não pode pedir que se poupe água ou que não se consuma milho trangénico, ou....não seria credível.

domingo, 2 de novembro de 2008

Melindrar


Melindrar, verbo transitivo que significa ofender, magoar, ferir, susceptibilizar,... verbo pronominal que significa sentir-se ofendido, amuar,... Um verbo que me tem sido imposto nos últimos dias pelos Semideuses na minha saga para entrar no Templo. Começo a acreditar que é o verbo-estratégia dos Semideuses para manipularem a atenção, o comportamento dos Infames.
A questão é como se tornaram mestres do melindre. Porquê? Como?
O como talvez seja mais fácil de responder, resultou e não mais pararam de o usar em qualquer circunstância. O porquê é mais difícil, atrevo-me a pensar que quem o usa vive através dos outros ou seja vida própria empobrecida ou então estão habituados a serem bajulados e nunca foram contrariados. Penso que muitos confundem as relações profissionais com as pessoais encarando situações profissionais como ataques pessoais. Outros têm expectativas altas em relação ao outro. O síndrome do melhor amigo depois de 3 meses a trabalhar lado a lado! E o melhor amigo melindra-se, amua quando não é convidado para um jantar com os amigos de sempre. Como é possível?
Se alguém me conseguir explicar agradeço. A minha entrada no Templo seria facilitada se eu o soubesse usar.