domingo, 15 de março de 2009

Mal de Marinheiro



"Não se descobre novos oceanos se não se tiver coragem de perder a terra de vista." André Gide


O meu maior medo sempre foi o compromisso com terra e sempre fugi, como um verdadeiro marinheiro, da permanência em terra por mais de uma noite, enquanto se atestava e limpava o barco. A permanência em terra por mais de uma noite e um dia enjoava-me, causava-me os mesmos sintomas que alguns demonstram no mar.
Esta sensação de entorpecimento, de pouco espaço que me persegue há uns tempos deve-se à ressaca de mar. O meu barco está encalhado nas areias da rotina. Estou necessitado de uma viagem por mares nunca dantes navegados! Com esta dependência o Templo mais longe!

2 comentários:

Pine & Pepper disse...

Uns ressacam de mar... de aventura e desprendimento do que é mundano.
Outros perdem-se em Mares desconhecidos e buscam terra julgando entre delírios muitas vezes, terem-na encontrado.
E quem mora na costa???

Anónimo disse...

Gostei desta imagem marítima.

Curiosamente, não consigo ver-te como alguém que se prenda à terra. Antes como alguém que pode ter saudades da terra, que pode até admirar-lhe as belezas, mas que sofre se for obrigado a criar raízes.

Penso que, de algum modo, todos temos alma de marinheiro. Nuns, os apelos do mar obrigam-nos a romper amarras; noutros, são uma vaga canção que pensam ter ouvido em sonhos.

A este propósito, deixo-te o poema de Torga "Viagem":

Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).

Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.

Até logo. Bjs