
"Não se descobre novos oceanos se não se tiver coragem de perder a terra de vista." André Gide
O meu maior medo sempre foi o compromisso com terra e sempre fugi, como um verdadeiro marinheiro, da permanência em terra por mais de uma noite, enquanto se atestava e limpava o barco. A permanência em terra por mais de uma noite e um dia enjoava-me, causava-me os mesmos sintomas que alguns demonstram no mar.
Esta sensação de entorpecimento, de pouco espaço que me persegue há uns tempos deve-se à ressaca de mar. O meu barco está encalhado nas areias da rotina. Estou necessitado de uma viagem por mares nunca dantes navegados! Com esta dependência o Templo mais longe!
2 comentários:
Uns ressacam de mar... de aventura e desprendimento do que é mundano.
Outros perdem-se em Mares desconhecidos e buscam terra julgando entre delírios muitas vezes, terem-na encontrado.
E quem mora na costa???
Gostei desta imagem marítima.
Curiosamente, não consigo ver-te como alguém que se prenda à terra. Antes como alguém que pode ter saudades da terra, que pode até admirar-lhe as belezas, mas que sofre se for obrigado a criar raízes.
Penso que, de algum modo, todos temos alma de marinheiro. Nuns, os apelos do mar obrigam-nos a romper amarras; noutros, são uma vaga canção que pensam ter ouvido em sonhos.
A este propósito, deixo-te o poema de Torga "Viagem":
Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.
Até logo. Bjs
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