segunda-feira, 19 de maio de 2008

Protótipos


Protótipo do Semideus?




Protótipo do Infame?


Hoje passei cerca de noventa minutos a observar protótipos de Infames e Semideuses.
Este estado larvar dura vários anos e divide-se, fundamentalmente, em três etapas.
A primeira é a do aperfeiçoamento da "máquina". Começam a funcionar todas as peças num ambiente com características diferentes da "fábrica". É preciso alimentar e estimular para que o estômago, pulmões, cérebro, ... funcionem na perfeição.
A segunda etapa consiste na experimentação da "máquina" em percursos caseiros. As pernas e os braços têm utilidades até aqui desconhecidas. Conseguem produzir e compor melodias que emitem pela boca. Descobrem outras "máquinas" com quem podem treinar e fazer corridas fora das competições oficiais.
A terceira etapa é a das primeiras competições a sério. A estratégia é introduzida nas corridas, já não conta só a força da máquina, há que saber usá-la com eficácia. Descobrem que conseguem melhorar a sua performance se utilizarem os neurónios, se controlarem emoções,... Descobrem que têm motores com capacidades diferentes. Ganham e perdem corridas! Mudam de estratégia várias vezes! Alguns apreendem que melhoram resultados se trabalharem em equipa, outros consideram que sozinhos fazem tempos melhores. E assim de competição em competição chegam à Fórmula 1. As primeiras corridas são fantásticas, tudo é novo, tudo é possibilidade, ... as expectativas são gigantes! A dada altura dão conta que não ganham uma corrida há muito tempo, que é difícil ganhar, que para ganhar tiveram de se vender, que para ganhar ...!
Quantos chegarão ao Templo?
Quantos seguirão o caminho da Infâmia?
Qual o meu papel no meio desta competição?

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Boémia

A boémia, substantivo feminino, modo de vida hedonista, livre em que a bebida e a diversão estão presentes é o maior impedimento, à entrada no Templo, para este Infame.
Apesar de jurar que nunca mais a quero ver, e no dia seguinte a jura é muito verdadeira, depressa esqueço e a saudade ocupa o espaço do correcto, do melhor. E lá vou, mariposa nocturna, "beijar" todos os candeeiros da rua!
Os Semideuses não se deixam seduzir por esta beldade. Com fazem quando lhes sorri?
Até quando a angústia de uma relação que só é uma soma de momentos?

terça-feira, 13 de maio de 2008

Vontade de Pensar


"As pessoas que dizem não ter tempo para pensar surpreendem-me. Pela minha parte, posso pensar em duas coisas ao mesmo tempo. Pesar legumes, falar da chuva e do bom tempo com os fregueses, discutir com Mary ou amá-la, zangar-me com as crianças... nenhuma destas actividades impede a marcha de um segundo conjunto de pensamentos, de reflexões, de conjunturas. Isto deve acontecer com toda a gente. Não ter tempo de pensar deve equivaler a não ter vontade de pensar."

John Steinbeck, O Inverno do Nosso Descontentamento


Quem pensa distancia-se do Templo!

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Comoção


www.luminescencias.blogspot.com


Comoção, substantivo feminino que incorpora emoção forte, abalo, perturbação, enternecimento , pesar,... Definição teórica mas hoje pude comprovar que é tudo isso e muito mais.
Hoje a comoção invadiu-me! Apercebi-me da sua presença e influencia quando dos olhos tentaram saltar duas gotas de solução de cloreto de sódio. Os meus neurónios, perante tal deserção , puseram-se em campo qual Tenente-Coronel e racionalizaram tudo. Boa estratégia para as gotas malvadas não voltarem a repetir a façanha em presença de tão sedutor inimigo.
Afinal o que comove este Infame? Cogitaram os neurónios. A solidão das pessoas que já passaram a barreira da dita terceira idade, o olhar das minhas sobrinhas, o reencontro com alguém que há muito não se vê, a despedida, ... não saborear um amor porque somos dominados por um exército tirano de neurónios ou por uma frota de artérias, veias e capilares com o seu Capitão Mor a bombeá-las diariamente. E ainda dizer "eu sei com as linhas que me coso". E estas linhas empurram-nos para amores cerebrais, amores à semideus, amores pacíficos, amores para toda a vida! Mas eu quero um amor infame, um amor insensato, um amor desassossegado, um amor intenso mesmo que curto. Mas eu não posso ter destes "quereres", põem em risco a entrada no Templo.

domingo, 11 de maio de 2008

Intimidade


"Existe uma tribo na África oriental onde a arte da verdadeira intimidade é fomentada mesmo antes do nascimento. Nessa tribo, o aniversário de uma criança não é contado a partir do dia do seu nascimento físico, nem a partir do dia da sua concepção, como em outras culturas primitivas. Para essa tribo, a data do nascimento é contada a partir da primeira vez em que a criança é um pensamento na mente da mãe. Consciente da intenção de ter um filho com determinado homem, a mãe sai de casa e se senta sozinha debaixo de uma árvore. Fica sentada, atenta, até ouvir a canção do filho que ela espera conceber. Quando ouve a canção, volta para o povoado e a ensina para o pai, para que possam cantar juntos e então fazem amor, convidando a criança a se juntar a eles. Depois que a criança é concebida, ela canta para o bebê no seu ventre. Depois ensina a canção para as velhas e parteiras da tribo, para que através do trabalho de parto e do milagroso momento do nascimento a criança seja recebida com essa canção. Depois do nascimento todos os habitantes da tribo aprendem a canção do novo membro da comunidade e a cantam para a criança quando ela cai ou se machuca. A canção é cantada nos momentos de triunfo, ou nos rituais e iniciações. Essa canção torna-se parte da cerimônia do casamento quando a criança cresce e, no fim da sua vida, seus entes queridos reúnem-se em volta do seu leito de morte para cantar a canção pela última vez."
em Amor e Sobrevivência, a Intimidade Que Cura de Dean Ornish


E são considerados Infames em desenvolvimento, imaginem quando atingirem a categoria de Semideuses desenvolvidos!

sábado, 10 de maio de 2008

"Clichés"


Nos dois últimos dias disse, li e ouvi, "clichés" mas que me têm feito pensar. O primeiro disse como conclusão sobre as relações que se estabelecem entre Infames e Semideuses. "Isto é uma selva", e ouvi como resposta "Não, na selva há regras claras". Uma grande verdade, com esta resposta, surgiu no meu sistema nervoso. De facto, nas relações que se estabelecem entre Infames e Semideuses há de tudo menos regras claras e límpidas. Como consequência os Infames são surpreendidos por atitudes incompreensíveis para o seu reduzido mundo e o que fica é o desencanto e a descrença nesta batalha pela entrada no Templo.
O segundo li na NS e é mais ou menos isto: "Escolhemos para pai e mãe dos nossos filhos quem tem algum defeito, bronzeado a mais ou a menos, sardas a mais ou a menos, peso a mais ou a menos,... e nunca aqueles que parecem ter saído de capas de revista de moda". Isto fez-me pensar nas minhas escolhas e concluí que é uma grande verdade, não escolheria o Brad Pitt ou a Angelina Jolie para pai ou mãe dos meus filhos mas se calhar escolheria o Bruno Nogueira ou a Maria Rueff. O defeito transmite consistência, veracidade, honestidade,... A perfeição transmite mentira, plástico,...
Acabei de ouvir o terceiro "cliché" quando um Infame me confessou que se sente incapaz de amar alguém como amou "alguéns". Será que é um problema dos Infames? Eu, também, sinto que não mais serei capaz de amar como amei e chego à conclusão que a causa é a falta de surpresa. De tanto estudar Infames e Semideuses consegui a monotonia amorosa ou seja nada me surpreende.
Procuro defeito que me surpreenda e se relacione com regras claras!

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Uma Espécie de Cansaço


O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

Mais uma vez palavras escritas por um Infame que retratam o que me vai não sei onde mas vai e arranha-me e arranha, também, quem se atreve a cruzar ou a acompanhar esta jornada para o Templo!
Um cansaço que tolda, que faz perguntas, que persegue, que é agressivo, que é persistente, que é antipático, que é arrogante, que é...
Cansaço de segunda-feira? Talvez!
Cansaço de 3º período? Talvez!
Cansaço da saga em torno do Templo? Talvez!
Cansaço...