quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Poema de um Infame


"As Palavras" - Novembro 2007


"O Poeta" - Novembro 2007

"As cores do poema
não são as cores do arco-íris.

As cores do poema são o branco
e o preto.

Peguei nas sucessivas partes do poema
e tentei uni-las,
para que conseguisse fazer delas
um corpo inteiro
uno.

Peguei em seguida nas diversas partes do teu corpo
para que conseguisse fazer delas
um poema
com as cores do arco-íris.

Como não pude encontrar
nem o verde, nem o amarelo, nem o azul
colhi flores – rosas vermelhas, margaridas, algumas dálias
e outras espécies de flores coloridas que se podem cortar
adicionei o perfume das pétalas ao teu corpo inteiro
uno como o poema.

É verdade que algumas partes de mim também se podiam misturar contigo
o castanho dos meus olhos nos teus olhos castanhos
que podiam ser verdes ou azuis

e não interessava.

O branco e rosa das nossas mãos que podiam ser de outra cor
os dedos entrelaçados
depois derrapando para dentro das coxas
o lume com a engrenagem das rótulas em movimento

e não interessava a cor do lume.

O avermelhado das línguas atiradas uma à outra
os lábios a morderem-se
o sal das línguas a arder no seu banquete
e não interessava também às línguas qual a cor da nossa pele
nem quais as cores do arco-íris.

Eu e Tu neste verso
o preto no branco da folha de papel
as cores do poema
nenhum arco-íris."

José Miguel Oliveira (www.deliriospoeticos.blogspot.com)

Agradecimento


Pemba, Agosto 2008

Para a Deep (Blog Letras são Papéis) e aproveitando a ideia da Deep , aqui fica o meu agradecimento em forma de poema:

"Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: <>
Deus sabe, porque o escreveu."

Fernando Pessoa
Obrigado Deep por me ajudares nesta atenção ao que sou e vejo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Etiqueta Social


"O Último Julgamento" de Michelangelo Buonarroti (1475 - 1564)

A melhor companhia que um Infame pode ter é a de mulheres com pruridos sociais que têm na ponta da língua o texto "Etiqueta Social". "Ri-te mais baixo"; "Estás a fumar muito"; "Outra cerveja, não achas que já chega?"; "Fala baixo, está toda a gente a olhar"; e por aí fora. Adoro estes ditos, fazem-me sentir Infame! Apesar do prazer de tal companhia, pergunto-me o que leva estes Semideuses a sentirem-se à vontade para vociferar tais julgamentos. A resposta talvez esteja na sua perfeição social. Falam baixo, sorriem, não fumam, bebem na medida certa,... ou a resposta estará na crença de que têm poderes para, somente com as suas palavras, fazerem milagres do tipo Infame transformado em Semideus. Oh, como as admiro!

Olor


retirado de www.oamador.com

O nosso olfacto percepciona olores ou odores ou cheiros e envia mensagens ao nosso cérebro que se podem tornar incomodativas. Quando esse estímulo provém dos corpos, o "exalador", a sensação pode tornar-se bastante desagradável. Os proprietários destes "exaladores" não primam pela higiene, e distribuem suor, chulé, ... e outros olores poéticos, para quem os quer e para quem não os quer "apanhar".
No passado fim de semana fui brindado pela presença de vários "exaladores" deste calibre numa sala pequena e mal ventilada. Em vez de estar a saborear outros paladares fui invadida, porque alguns odores são persistentes e indelicados, por algumas maravilhas provenientes dos cabelos, dos sovacos, dos pés, das roupas,... A invasão foi de tal calibre que, por diversas vezes senti tonturas, e já nem sabia definir a proveniência destes ataques. Partilhei a minha angústia e pavor com algumas colegas e fiquei surpreendida pela ligeireza com que encaram a guerra que lhes descrevi. Esta ligeireza é grave uma vez que também foram bombardeadas e nem se aperceberam e como verdadeiras almas caridosas ainda justificaram com as mais belas palavras (não é primeira vez que as ouço) "coitados, não têm culpa". Quem tem culpa então? Eu, porque tenho uma células olfactivas muito sensíveis. Após horas de reflexão cheguei à conclusão que de facto sou culpada. Coitados, são defensores acérrimos do ambiente e não gastam água nem poluem as águas com os restos de sabonete. E eu, grande pecadora, não os percebi! E mais, necessitam de manter uma imagem coerente com aquilo que defendem. Alguém cheiroso, limpo, barba aparada, cabelos lavados não pode pedir que se poupe água ou que não se consuma milho trangénico, ou....não seria credível.

domingo, 2 de novembro de 2008

Melindrar


Melindrar, verbo transitivo que significa ofender, magoar, ferir, susceptibilizar,... verbo pronominal que significa sentir-se ofendido, amuar,... Um verbo que me tem sido imposto nos últimos dias pelos Semideuses na minha saga para entrar no Templo. Começo a acreditar que é o verbo-estratégia dos Semideuses para manipularem a atenção, o comportamento dos Infames.
A questão é como se tornaram mestres do melindre. Porquê? Como?
O como talvez seja mais fácil de responder, resultou e não mais pararam de o usar em qualquer circunstância. O porquê é mais difícil, atrevo-me a pensar que quem o usa vive através dos outros ou seja vida própria empobrecida ou então estão habituados a serem bajulados e nunca foram contrariados. Penso que muitos confundem as relações profissionais com as pessoais encarando situações profissionais como ataques pessoais. Outros têm expectativas altas em relação ao outro. O síndrome do melhor amigo depois de 3 meses a trabalhar lado a lado! E o melhor amigo melindra-se, amua quando não é convidado para um jantar com os amigos de sempre. Como é possível?
Se alguém me conseguir explicar agradeço. A minha entrada no Templo seria facilitada se eu o soubesse usar.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Simply Red



Pelos momentos partilhados


Ontem, depois de uma tarde a vegetar com um comando na mão, senti falta de um mimo doce.
De mimo na mão, numa fila de Semideuses com as compras de fim de semana, olhei em volta e um sorriso começou a desenhar-se nos meus olhos ao ver uns cabelos ruivos e uns olhos verdes que ao descobrirem-me brilharam. De repente fui transportado para o passado e aquela fila carregada de sacos desapareceu. Olhos castanhos em olhos verdes, coração a palpitar e um ligeiro rubor na face trouxe memórias de uma paixão. Trocamos algumas frases semelhantes a carícias e a nossa cabeça repleta de doces memórias. O chocolate ficou esquecido e derretido entre os meus dedos.
As filas, com sacos à mistura, são locais propícios a encontros inesperados. Estes encontros, um óptimo medicamento para a alma.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Digestão de Elogios

Nascer do Sol no Indico - Agosto 2008


Para os meus amigos/leitores com problemas de digestão, em especial para o meu amigo G., aqui fica uma citação de Machado de Assis:

"Eu não sou homem que recuse elogios. Amo-os; eles fazem bem à alma e até ao corpo. As melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou brindado."


E já agora que estou em fase "mimatória" do corpo e da alma aceitam-se brindes!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Amor - Ódio


retirado de www.substantivolátil.com

Hoje, os protótipos de Infames e Semideuses a quem ensino as ciências da vida, fizeram-me pensar nas relações de amor-ódio que se estabelecem entre professores e alunos ao afirmarem que tinham a certeza que os professores deviam estar sempre a pensar em castigos para os que se portam mal, em castigos para os que não fazem os T.P.C., em castigos... Como aluno, pensei em pequenas torturas que gostaria de ter infligido aos meus professores. Mesmo aos professores de quem gostava havia dias em que me apetecia espetar-lhes pequenas agulhas por todo o corpo. Como professor posso dizer que só mudou o personagem a quem eu gostaria de infligir pequenas torturas, portanto os pequenos protótipos têm razão. Que torturas gostariam de me infligir naqueles dias em que estou odiável?
Só se valoriza o amor que se sente se pudermos por momentos odiar o objecto amado. A eterna dualidade onde o equilíbrio se refugia.

Mamma Mia


Mamma Mia deslumbrou-me ontem, depois do jantar, e numa altura em que os 40 estão à porta.
É um filme saboroso pela alegria, pureza, beleza, .... e a música dos ABBA. Todo o meu corpo e alma se enterneceu e recordou "velhos" tempos, "velhos" amores, "velhas" amizades, "velhas" festas,... E apeteceu-me abrir a porta dos 40 em festa! Os anos passam e as memórias aumentam oferecendo estima por este corpo e esta alma que já saboreou tantas emoções. Pena que essa memória desapareça por longos períodos. Tenho que motivá-la e ser um anfitrião alegre para que me visite mais vezes.
Começo a entender a célebre frase "a ternura dos 40"!

domingo, 5 de outubro de 2008

Medo versus Admiração


Agosto 2008 - A Sul

"Tinha muito tempo que ela não amava um homem naquelas areias. Muita gente pensava que ela só sabia brigar, que a vida para ela era um barulho, a ponta de uma faca, o brilho de uma navalha. Se homem valente vira estrela no céu ela um dia estaria entre eles. Mas a vida para Rosa Palmeirão não era só barulho. Do que ela mais gosta, mais do que briga, de cachaça, de conversa, é de estar assim nos braços de Guma, estendida na areia, dominada, mulher, muito mulher, catando a cabeça dele, dengosa. Os seus olhos são fundos como o mar e como o mar variam. São verdes, verdes de amor nas noites do areal. São azuis nos dias calmos, e de cor de chumbo quando a calmaria é apenas o prenúncio da tempestade. Seus olhos brilham. Suas mãos, que manejam facas e navalhas, são agora doces e sustêm a cabeça de Guma, que repousa. Sua boca, que diz palavrões, é terna agora e sorri de amor. Nunca a amaram como ela desejou. Todos tinham medo dela, do punhal, da navalha, do seu corpo bem feito. Pensavam que no dia em que ela se zangasse apareciam o punhal e a navalha, o corpo desaparecia. Nunca a tinham amado sem temor. Nunca ela vira uns olhos límpidos assim como os de Guma. Ele a admirava, não a temia."
in "Mar Morto" de Jorge Amado

O medo e a admiração confundem-se nos olhares que recebo!
Quero um olhar limpo, puro, que veja para além dos artefactos de guerra, que não veja a farda de soldado.
Quero um olhar que me permita devolver admiração!
Quero um olhar que me permita devolver respeito!
Quero um olhar que eu não deseje aniquilar!
Quero, ao ser olhado, perder-me no caminho para o Templo.


sábado, 4 de outubro de 2008

Rir


Rádio Calheta


Rir é mesmo o melhor remédio!
Hoje curei-me de muitos males. Comecei a rir ao almoço e só terminei à hora do jantar.
O responsável por esta cura, um Vil Infame, poderia tornar-se curandeiro de profissão não fosse a perseguição cerrada por parte de Semideuses inquisitórios que não lhe permitem exercer a sua profissão de forma legal. Para os Semideuses esta cura é ainda sinónimo de pouco siso portanto há que eliminar os curandeiros que a ministram e os Infames que dela usufruem. O que mais me entristece é haver alguns Infames que compactuam com os Semideuses e denunciam estes curandeiros como se fossem sociopatas e dão lições de moral a quem utiliza o medicamento. Parece-me que um dia destes vamos ter que tomar esta medicação escondidos em caves e sempre a olhar por cima do ombro não vá estar um traidor entre nós.
Para entrar no Templo temos que deixar ou reduzir a medicação ou tomá-la só em ocasiões permitidas pelos Semideuses.
O Templo cada vez mais longe!

domingo, 21 de setembro de 2008

Chave Dicotómica


A Sul - Agosto 2008


"- Quando quiseres saber se estás num local rico ou pobre, procuras os caixotes do lixo. Se não vires dejectos, nem caixotes, é um local muito rico. Se vires caixotes, mas não vires dejectos, é rico. Se vires dejectos ao lado dos caixotes, não é rico nem pobre é turístico. Se vires dejectos sem caixotes, é pobre. E se as pessoas morarem por entre os dejectos, então é muito, muito pobre."

in "O Senhor Ibrahim e as flores do Corão" de Eric-Emmanuel Schmitt

Ainda os Pés


Imagem retirada de http://inusitatus.blogtv.uol.com.br

"(...)
- Os teus sapatos não prestam, Momo. Amanhã vamos comprar-te um par novo.
- Sim, mas...
- Um homem passa toda a vida em dois lugares: ou na cama, ou nos seus sapatos.
- Não tenho dinheiro.
- Ofereço-tos. É uma prenda minha. Momo, só tens um par de pés, precisas de tomar bem conta deles. Se os sapatos te magoam, tens de substituí-los. Mas não podes mudar de pés!"

in "O Senhor Ibrahim e as flores do Corão" de Eric-Emmanuel Schmitt


E que fazem os Infames? Tentam mudar de pés porque sem aquele sapato a vida perde o valor. Santa ingenuidade a dos puros Infames que se despezam por amor ao Templo.

Contradição


Imagem retirada do blog "Argumentações do Brejeiro"


"Quando nos contradizemos é sinal que evoluímos. As convicções estáticas são um empecilho..." Móises Salgado, in Contos Divagações e Outras Mentiras


Na Ciência podemos dizer que uma verdade é um erro à espera de vez (adaptação de uma frase que penso ser de Virgílio Ferreira), ao nível do auto-conhecimento poderíamos dizer que uma convicção é uma contradição à espera de vez. Como Infame convicto vou contradizer-me ao assumir que a coerência é uma incoerência à espera de vez. E aqui reconheço que a evolução dos Semideuses se deve à sua grande capacidade de transformarem uma coerência em incoerência muito rapidamente. Para um Infame essa transformação tem que ser mastigada, digerida, reflectida, encaixada, justificada,.... mas quem somos nós? Meros Infames, seres pouco evoluídos!

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Umbigo



Hoje fartei-me dos umbigos prepotentes dos Semideuses! Ao escrever este desabafo ponho em risco a entrada no Templo. O caminho seria mais fácil se fizesse uma dieta de atitudes para que o meu umbigo ficasse mais sedutor aos olhos dos Semideuses. Estratégia inteligente mas hoje o bom senso escapou-se entre umbigos que se exibem com as conquistas conseguidas só pelo facto de assumirem que são únicos. Desde o momento da fecundação, o umbigo é o centro do nosso mundo, é ele que nos permite sobreviver. Os anos passam e somos bombardeados com a célebre frase "olha para o teu umbigo", só assim serás um Semideus. E alguns apropriam de tal forma este lema que o seu sucesso é medido pela quantidade de horas que passam a idolatrar o dito. A adoração é tão profunda que os outros umbigos deixam de ter qualquer significado e quando ousam mostrar-se são esventrados, aniquilados,...
Os Infames passam muito tempo a apreciar os umbigos dos outros, o seu é esquecido ou perde importância e nesta adoração o Templo mais longe.
Amanhã vou começar uma dieta, duas horas a olhar para o meu umbigo para no final do mês chegar às 6 horas e talvez no final do ano consiga as 24 horas. Começarei o ano de 2009 mais perto do Templo!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Ternura Sulista


O meu amigo pequenino, de nome Nélio, nasceu no Sul há 3 anos numa família muçulmana.
Para o Nélio, eu era uma pessoa digna de abraços e de sorrisos carregados de dentes brancos como a minha pele. Ao avistar-me, os seus braços pareciam ter molas e as suas pernas apressavam-se na minha direcção e da sua boca saía um sorriso e um bom dia melodioso.
O Nélio anda descalço e durante o dia percorre o bairro com a sua candura distribuindo ternura.
Na bagagem veio a ternura do Nélio, um pequeno Infame, que não me pediu nada em troca dos seus sorrisos e dos seus abraços.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Loucos Infames


O Sul trouxe-me uma experiência entre Infames rotulados pelos Semideuses como loucos. Todos os gestos e palavras são no sentido de o comprovar, os Semideuses não se enganam.
Louco, aquele que perde a razão, dizem eles. Então, deduzo, só resta a emoção. Perfeito! Porquê renegá-los, fechá-los, ....? Porquê afastá-los para sempre do Templo? Semideuses apregoam todos os dias que é necessário valorizarmos a inteligência emocional e então? Grande contradição esta!
Concluo que para entrar no Templo é preciso fazer campanha pró-emoção mas no decorrer do mandato fazer prevalecer a razão e castigar todos aqueles que ousaram acreditar. Prozac, desamor, desrespeito, ... medicamentos para encontrarem o que perderam.
Um abraço a todos os Infames denominados loucos com quem encontrei o que nunca tinha achado.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

O Preto e Branco



Onde a cor inunda sou surpreendido pela sua ausência!

terça-feira, 9 de setembro de 2008

terça-feira, 19 de agosto de 2008

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Para Sul



Aos que me lêem aqui ficam dois retratos infames que vão fazer parte do cenário durante o próximo mês!
Não escreverei palavras infames mas tentarei comportar-me ao nível da maior infâmia.
E em Setembro cá estarei novamente com mais palavras.
Aqui vou rumo a Sul ao encontro de mais Infames.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Os Ausentes





Ausentes na comunicação entre Semideuses, os Pés são como o parente pobre e malcheiroso que não deve ser visto pelos convidados. Escondidos, apertados, mascarados suportam todo o tipo de humilhação e ainda têm que servir de transporte, de apoio, de arma, de ....
Libertem os Pés! Deixem-nos respirar! Permitam-lhes participar activamente na comunicação!
Com esta minha tomada de posição serei castigado e o Templo ficará mais longe.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Bonecas Russas


A inveja é um substantivo feminino e, eu diria tipicamente feminino, provocado pela felicidade, prosperidade e gozo de outrem e que se manifesta com um perfume à base de ódio, desgosto, desejo irrefreável. Este sentimento não é tolerável, mesmo entre Semideuses, e então há que o dissimular e aí surge o desdém, mais aceite e até admirado. O desdém é um substantivo masculino e como tal mais discreto, mais racional,...e manifesta-se por um desprezo arrogante, altivez, indiferença velada,... Se pensarmos nas bonecas russas encontramos por fora a boneca do olhar paternalista, logo a seguir a boneca com sorriso de desdém e por dentro desta a boneca que se mortifica com sentimentos de inveja.
Nos encontros com Semideuses, por vezes, as bonecas abrem e individualizam-se. A causa é sempre um comportamento Infame. Como crianças curiosas não conseguem ver tão belas bonecas sem as abrirem.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Tarde Poética



A realidade poética da minha tarde de ontem junto de Semideuses em análise de candidaturas ao Templo resume-se a isto:
"O desdém escondido num sorriso e a inveja escondida no desdém e tudo isto protegido por um olhar paternalista."
Como admiro os Semideuses quando das suas bocas sai pura poesia inspirados na prática Infame.

domingo, 13 de julho de 2008

Emir Kusturica and The No Smoking Orchestra



A música "Unza Unza Time".
Hoje apetece-me Kusturica. A minha alma cigana despertou, de um longo sono, disposta a dançar toda a noite na companhia de esbeltos Infames.
A censura bateu à porta e recordou-me a missão: Templo! Escondi o Kusturica. A dança fica para amanhã em mais um Baile de Debutantes na companhia de protótipos de Semideuses.

Pitbull Terrier





Aqui fica Emir Kusturica e uma música da banda sonora do seu filme "Gato Preto Gato Branco"!

sábado, 12 de julho de 2008

TUA - Pronome das Minhas Emoções



Que dia fabuloso entre Infames e paisagens deslumbrantes!
A natureza inebria-me as pessoas comovem-me!
Para a pequenina Infame o meu respeito e quase idolatria!

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Into The Wild




"Há um prazer nos bosques inacessíveis;
Há um enlevamento na costa solitária;
Há uma sociedade, onde ninguém penetra,
Junto ao mar profundo, com música no seu rugido:
Não amo menos o homem, mas mais a natureza..."

Lord Byron

Poema que abre o filme "Into The Wild" de Sean Penn, baseado em factos reais. O filme retrata parte da vida de Christopher McCandlesse descrita em livro por Jon Krakauer. Um filme sobre a busca da verdade, da felicidade, do lar,... Um jovem que acredita na felicidade e na verdade longe desta sociedade economicista; acredita poder sobreviver unicamente com o que a natureza lhe oferece; acredita que os momentos de maior felicidade não provêm das relações humanas. Um filme sobre a descoberta do eu "experienciando". Um verdadeiro Infame a fugir do Templo em busca da caverna!

Fracasso ou Fiasco?


Ontem estive a vegetar acompanhado de três filmes. Nenhum me marcou pela sua mensagem ou originalidade mas um deles fazia a distinção entre Fracasso e Fiasco. Hoje, coloquei os dedos ao caminho e descubro que apesar de poderem ser utilizados como sinónimo têm muitas diferenças. O Fracasso é masculino e pode ser utilizado para descrever ruído ou estrondo de coisa que se quebra, insucesso, mau resultado, fiasco e desastre. O Fiasco é, também, masculino e deve ser utilizado quando estamos perante resultado desfavorável, ridículo ou vexatório, fracasso, vergonha, mau sucesso e estenderete. A minha busca não ficou por aqui visto surgir-me a palavra estenderete desconhecida até então. Estenderete, também masculino, arredonda má figura em acto público mas também pode ser pergunta ardilosa com o intento de embaraçar alguém.
A duvida surge, quando é o Fracasso e quando é o Fiasco a fazer das suas?
Os amores perdidos são ruídos estrondosos de coisa que se quebra.
Na conquista o resultado pode ser ridículo ou mesmo vexatório.
No trabalho o resultado, por vezes, é desfavorável.
Os Semideuses gostam de estender estenderetes aos Infames.
(...)
Na caminhada para o templo estes dois vocábulos são os traquinas de serviço.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Pudesse Eu




"Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!"



Sophia de Mello Breyner Andreson
Poesia, Antologia
Moraes Editores, 1970

terça-feira, 8 de julho de 2008

Pescadores de Sonhos


O que acontece ao Rio dos Sonhos para que a dada altura os Pescadores de Sonhos não os possam pescar?
Fica de tal forma turvo que não se conseguem ver os Sonhos. Quem turva de tal forma a água deste Rio? Semideuses? Semideuses com Infames cúmplices?
É doloroso pensar que, estes Pescadores, um dia poderão não mais enxergar os Sonhos. Que um dia se esquecerão da existência deste Rio e partirão em busca do Templo. Alguns rapidamente ascenderão à categoria de Semideus outros andarão no limbo entre o Rio e o Templo.
É urgente lançar políticas de protecção do Rio ou então o Sonho será espécie em vias de extinção.

Quando o Alentejo Vem ao Norte



Há paisagens que me provocam um aperto de saudade do tempo em que a paisagem era amarela pintalgada de verde escuro, em que os Infames formavam autênticas colmeias de amizade, em que o Rio nos inundava de alegria, em que o Cais nos proporcionava descobertas diárias, em que o mar nos trazia serenidade, em que o Escondidinho nos alimentava, em que a minha casa nos tertuliava, em que o Largo dos Patos nos descansava, ...
Os Infames que me acompanharam por essas paisagens ainda continuam com esse estatuto, tal como eu andam em batalha renhida para entrarem no Templo, tal como eu têm muitos obstáculos, mas sempre companheiros neste caminho.
Obrigado Infames que encontrei em terras amarelas pintalgadas de verde escuro.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

E Sempre o Álvaro

Ainda no seguimento do post Maternidade aqui fica Álvaro de Campos roubado ao "Letras São Papéis"


"Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!"

(Lisbon Revisited)

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Maternidade


A dada altura surgiu-me no livro "Expiação", de Ian McEwan, algo que já senti inúmeras vezes.
Quem não tem filhos por opção ou é digno de pena ou de inveja e estas duas emoções encontram-se, por vezes, na mesma pessoa. A pena vem acompanhada de um olhar onde se pode ler "coitado, se calhar não pode ou não arranjou ninguém"; "Este é que tem sorte, faz a vida que lhe apetece" desenha-se no olhar da inveja.
Todos os dias a certeza é maior, tal instinto não vinha no Kit deste Infame. Tento remediar tal facto rodeando-me de sobrinhos para ver se surge um sinal desse instinto e nada. A certeza é cada vez maior!
Quem tem coragem em ousar não ter filhos porque não quer e ainda querer ascender ao Templo? Os Semideuses não perdoam tal incoerência! Um dia destes receberei um olhar de avis rara e aí estará tudo perdido.
Sobrinhos ajudem o tio a entrar no Templo. Preciso de encontrar o instinto.

domingo, 29 de junho de 2008

Tarde Multi-sensorial



O meu final de tarde, ontem, foi uma viagem pelo mundo das sensações.
Desde a luz e os sons da praia recebidos em solitude até à sande de presunto com ovo acompanhada de umas "loiras" recebida em excelente companhia infame.
E a bateria novamente carregada!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Outra Vez o Lobo Mau


Retirado do blog Now Katrineta


Ontem em conversa com outros Infames, aconchegados por paisagem a condizer, referi o facto de todas as crianças pedirem uma e outra e outra e outra e ... vez para lermos a mesma história, o que, diga-se de passagem, aborrece quem se intitula adulto. Li uma vez que fazem isto para ganharem confiança, já sabem o que vai acontecer, começam a controlar as emoções. Fui até ao aconchego do lar a pensar que não se resume à infância essa vivência do outra vez. Os Semideuses passam a vida a repetir uma e outra e outra e outra,...vez as mesmas histórias mas com personagens diferentes e concluem que não aprenderam nada. Que o lobo mau os engana sempre! E ficam desgostosos, desiludidos e prometem que para a próxima vão estar mais atentos e que a pele de cordeiro não os enganará. A próxima vez vem e, novamente, são iludidos, só porque desta vez o lobo mau estava disfarçado de ovelha. E lá vem a penitência, as promessas de nunca mais! E nisto gastam uma vida, gastam emoções.
A sabedoria Infame diz-me que afinal, o querermos viver outra vez as mesmas histórias baseia-se, simplesmente, na nossa segurança/confiança/gestão eficaz de emoções, ou seja nós sabemos que o lobo mau anda por aí mas já não temos medo e arriscamos uma e outra vez pois um dia há-de aparecer o príncipe encantado e ao primeiro beijo descobrimos que uma bruxa o tinha transformado em lobo. Para entrar no Templo não podemos ter tal arrogância é melhor fingirmos que a cada nova história repetida fomos enganados e chorar baba e ranho e apregoarmos a nossa inocência! O Lobo Mau é culpado!

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Olhares



Olhares Infames!
Olhares que comovem!
Olhares que amam!
Olhares que julgam!
Olhares que admiram!
Olhares que confiam!
Olhares que esperam...

Rosas Perfumadas




Caros Infames que lêem este blog, muito obrigado pelos vossos comentários que me ajudam a compreender melhor e a sentir-me acompanhado neste difícil caminho para o Templo.
Continuem mesmo que não dê feed-back. Sou leitor atento!
Ofereço-vos Rodrigo Leão.

terça-feira, 24 de junho de 2008

As Cores da Infâmia




Registos de uma tarde recheada a arco-íris!

O Baile de Debutantes

Fui convidado para um baile de debutantes. Roupa a rigor e comportamento de acordo com o protocolo. O baile, que durou 90 minutos, teve como propósito divulgar a sabedoria linguística de quatro protótipos de Semideuses. E que sabedoria impressionante! Prestei-lhes vassalagem e admirei-os por inutilizarem seis folhas de papel, cada um, sem o mínimo de constrangimento, sem sequer pensarem nas árvores necessárias ao fabrico da magia branca. Oh, como os admiro!
Fiquei grato pelo convite, por me permitirem usufruir de tão divina presença. E eles, de acordo com a principesca educação que receberam, a não agradecerem a minha admiração, a minha esperança. Um Templo mais justo, mais sábio, mais solidário, mais... depende destes futuros Semideuses. As árvores? O carvão? O tempo gasto por este Infame? Isto tem algum interesse? Não! O que importa é o bem estar destes Semideuses adolescentes; perceberem que têm os seus súbditos aos pés e que poderão continuar a reinar e a espalhar a sua sabedoria.
Hoje sinto-me realizado, cumpri o meu papel na perfeição. Templo à vista!

terça-feira, 17 de junho de 2008

Volúpia


“L’enlèvement de Psyché” de William Adolphe Bouguereau.
(Da união entre Psique e Eros nasceu Volúpia)


Hoje distanciei-me do Templo!
Estive sentado num confortável sofá, com as pernas voluptuosamente esticadas num local público. Por companhia, Infames, garrafas de néctar suculento de cevada e palavras que dançavam com facilidade. Palavras que não se exibiam, palavras que não seduziam, palavras espontâneas, palavras ingénuas,... Não sei se pela postura voluptuosa das minhas pernas, se pelas palavras pueris ou se pelo néctar de cevada, a leveza tomou forma, a importância do caminho para o Templo ficou reduzida a cinza no cinzeiro partilhado. Um risco não calculado que boicota todas as estratégias para a entrada no Templo. Aguardo sentença! Promiscuidade
dirão os Semideuses!