segunda-feira, 5 de maio de 2008

Uma Espécie de Cansaço


O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

Mais uma vez palavras escritas por um Infame que retratam o que me vai não sei onde mas vai e arranha-me e arranha, também, quem se atreve a cruzar ou a acompanhar esta jornada para o Templo!
Um cansaço que tolda, que faz perguntas, que persegue, que é agressivo, que é persistente, que é antipático, que é arrogante, que é...
Cansaço de segunda-feira? Talvez!
Cansaço de 3º período? Talvez!
Cansaço da saga em torno do Templo? Talvez!
Cansaço...

2 comentários:

deep disse...

Como te compreendo! Talvez seja tudo isso...

Um dos meus poemas de eleição. De que é que eu não gosto em Álvaro de Campos?

Se puder ser (ou até se não puder ser), faz por ter bons sonhos e... descansa!

Até...

deep disse...

Parece que foste nomeada! Passa no "letras".

Até logo!