sábado, 12 de abril de 2008

Morte


O Dia da Morte; pintura de William-Adolphe Bouguereau (1825-1905)

"Aquilo que verdadeiramente é mórbido não é falar da morte, mas nada dizer acerca dela, como hoje sucede. Ninguém está tão neurótico como aquele que considera ser neurótico decidir-se a pensar sobre o seu próprio fim."
(Philippe Ariès)

A morte, óbito, falecimento, ... de um organismo vivo foi, é e será inaceitável para os semideuses e infames. A morte/dor/perda é unificadora, o único momento em que semideuses e infames comungam das mesmas sensações, dos mesmos pensamentos, dos mesmos espaços, ...
A morte de alguém a quem olhamos nos olhos, a quem sorrimos, a quem dirigimos palavras simpáticas, de quem recebemos em troca a mesma moeda causa frustração, impotência, confusão, ... e um aperto no coração ou no estômago ou por ali. Todas as teorias sobre a morte são esmagadas por esse aperto não sei onde.
Este reles infame sentiu esse aperto e mais uma vez a ideia, de que é um fenómeno natural, tal como o nascimento, que deve servir para louvar, foi esmagada, pisada,... por sucessivos apertos. E as migalhas que surgiram eram simplesmente pontos de interrogação, pontos de exclamação e muitas reticências. E todo o texto que foi construído com a vida é destruído pela palavra morte e o que fica são sinais de pontuação.
O que vai acontecer, mais uma vez, é que vou ter de apagar os sinais de pontuação e começar novamente a escrever o texto da vida.


1 comentário:

deep disse...

Não é o que sempre estamos a fazer: a pôr pontos finais, que se substituem, de seguida, por pontos de interrogação, para voltarmos aos pontos finais ou às reticências?

Hei-de voltar, com mais tempo...

Até logo!