terça-feira, 15 de abril de 2008


Sophia Mello Breyner

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão".

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.

Sophia de Mello Breyner Andresen


Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen


Hoje, numa perspectiva de ascensão ao templo, os infames reuniram-se em torno de vários prazeres. O manjar, o vinho,
em alguns casos o sumo, o doce e a poesia.
Para os semideuses não passou de um encontro inofensivo entre iguais. Os pobres de espírito que se deliciam em comezainas para esquecer as agruras da vida.
Para os infames funciona como um encontro de ideias, emoções, ... âmagos, onde se combinam estratégias para combater as influências divinas que imanam do templo.
Como acta de tal encontro deixo dois poemas de uma conhecida infame.

2 comentários:

Anónimo disse...

Esta infame deliciou-se com os manjares... os do corpo e os do espírito!

Como diria o Sérgio Godinho: "Hoje soube-me, hoje soube-me a tanto... Portanto: hoje soube-me a pouco!"

Anónimo disse...

Finalmente passei por esta página. Promete! Fico à espera de encontrar mais na próxima visita.

Vitória